TEOLOGIA: ciência ou estudo que se ocupa de Deus, de sua natureza e seus atributos e de suas relações com o homem e com o universo; conjunto dos princípios de uma religião; doutrina.
LITURGIA: o conjunto dos elementos e práticas do culto religioso (orações, cerimônias, objetos de culto etc.) instituídos por uma seita religiosa; o conjunto das formas (palavras, gestos) utilizadas na realização de cada um dos ofícios; rito.
Iniciamos este texto com definições extraídas do dicionário do Google acerca dos termos Teologia e Liturgia. Ainda que, dentro da fraquíssima laicidade brasileira, tenham como base a doutrina religiosa predominante desde que o país foi euro-colonizado, podemos compreendê-las, ampliando-as e trazendo-as à nossa realidade umbandista.
Focando única e exclusivamente no nosso universo religioso, percebemos uma vasta procura por ensinamentos teológicos (ou seriam litúrgicos?) de médiuns e adeptos da nossa religião, mirando esclarecimento e abertura de um entendimento maior acerca das manifestações. Porém, sabemos, as manifestações centenárias da Umbanda possuem uma base sólida e, por isso, é fundamental compreendê-la (a base), ao menos, minimamente.
Uma árvore não cresce em solo improdutivo e não se firma, caso não possua uma raiz forte e sustentadora. Assim ocorre também com o solo e a raiz de uma religião, seja ela qual for. Por isso, precisamos cuidar do solo e das raízes umbandistas, pois, sem eles, tudo naturalmente sucumbirá.
Já dissemos aqui que há uma procura grande pelo conhecimento dentro da Umbanda. E é preciso complementar tal raciocínio dizendo que não há nada que seja exclusivamente umbandista; a nossa religião manifesta ao seu modo, dentro de um grau de compreensão acessível aos seus adeptos, os mistérios de Deus, ou seja, as hierarquias divinas que se espalham pela Criação.
Por isso, compreendê-las é fundamental e isso só ocorrerá de fato quando o adepto buscar um aprofundamento no estudo teológico, que nos mostra como as qualidades da nossa Origem (Deus) se espalham e sustentam toda a Criação, atuando a partir dessas hierarquias que, nada mais são, do que os Sagrados Orixás.
Um estudo teológico aprofundado nos mostrará a riqueza da Ciência Divina, bem como, uma fonte filosófica aprimoradíssima – e que nos sustentará – como solo fundamental para a nossa prática religiosa, afinal, o fundamento essencial de uma religião é nos manter religados à Origem, para que cumpramos bem a nossa jornada evolutiva conforme a Sua Vontade Maior.
Talvez o grande equívoco causador de sofrimentos, incertezas e desesperanças nesse aspecto, esteja justamente nessa compreensão, pois, infelizmente, ainda há quem ache que a religião (ou o processo religioso) é um instrumento para conquistas das mais variadas. Quem pensa ou tenta trocar com Deus, não se apercebe, mergulhou em um poço muito fundo e está se banhando na ignorância, afinal, como se troca com algo infinitamente maior do que nós? Imagine, tente visualizar!
A busca pelo estudo na Umbanda ainda é confundida por alguns, que procuram na liturgia a teologia quando o processo natural é o inverso desse. A liturgia é um pedaço, tão somente, da teologia. Fazendo o caminho inverso, será impossível qualquer progresso, pois, sabemos, o maior (teologia) não pode estar contido no menor (liturgia).
E não há nessa definição nenhum tipo de depreciação, apenas colocamos algo natural. Vejamos: aquele que busca estudar, pura e simplesmente, a liturgia (você pode, agora, voltar ao início do texto e reler as definições), invariavelmente, rodará em volta do mesmo ponto ad aeternum e não sairá do lugar. Exatamente porque não possui base fundamentadora teológica para o processo.
Aquele que busca o aprofundamento teológico, compreendendo Deus e suas Divindades (Orixás, Anjos, Arcanjos etc), bem como, as forças/linhas espirituais de trabalhos (nossos guias) sustentadas por poderes de Deus (Orixás), absorvendo como conhecimento as qualidades manifestadoras, suas funções, etc., praticará a liturgia com desenvoltura e conhecimento de causa.
Conhecer as cores dos Orixás para acender suas velas, para manipular ervas ou pedras correspondentes aos seus poderes, sem aprofundar-se no real conhecimento daquele mistério é pouco útil. É fruto, muitas vezes, de uma intenção egocêntrica, de quem busca apenas limpar a sujeira da sua calçada e não se apercebe que nada acontecerá realmente, se não trabalhar em conjunto com seus vizinhos para a limpeza constante, regrada e ordenada da sua rua, pois, se assim não for e, ainda que se mantenha limpando somente a sua calçada, estará envolto pela sujeira.
Aquele que busca o conhecimento teológico factual possuirá condições de auxiliar na limpeza da sua rua. Não porque a realizará sozinho, mas, porque com conhecimento de algo mais profundo, poderá transmitir o que aprendeu, ao menos parcialmente, a toda sua vizinhança. Isso é libertação de fato! E ninguém consegue libertar somente a si, a não ser, ilusoriamente.
Portanto, busquemos aprofundamento na teologia umbandista, pois, ela nos sustenta vinte e quatro horas por dia. Assim poderemos, nos momentos em que ritualizarmos ou nos colocarmos aos pés do Sagrado, atuar liturgicamente com força, propriedade, entrega e conhecimento.
Um saravá fraterno!
André Cozta
Lindo e belo texto se não fosse a ignorância do ser humano a umbanda não seria tão discriminada, mas com nossa união tudo mudará.
Agradecemos, Glauco!
É isso mesmo! Unidos e tendo o Conhecimento como base, chegaremos lá.
Oportuno e necessário. Grato pela contribuição ao Todo.