Filosofia: ARISTÓTELES E OS MOVIMENTOS DA ALMA

“Nosso EXAME DEVE COMEÇAR PELO MOVIMENTO, pois provavelmente não só é falso conceber a essência da alma como os que afirmam que ela é aquilo que move a si mesmo ou é capaz de mover a si mesmo, como também é impossível que o movimento seja sequer um atributo dela. Já salientamos que não é necessário que o motor seja ele próprio movido. As coisas podem ser movidas de duas maneiras: ou por uma outra coisa ou por si mesmas. Dizemos que é movido por outra coisa tudo o que é movido pelo fato de estar contido numa coisa em movimento. Disso são exemplo os marinheiros, movidos de uma maneira distinta do navio, que se move diretamente, por si mesmo, enquanto eles são movidos indiretamente, por estarem num navio em movimento. Isso fica evidente se considerarmos seus membros; o movimento próprio dos pés – e, por isso mesmo, próprio do ser humano – é o caminhar, e nesse caso os marinheiros não estão caminhando na embarcação. Admitidos os dois sentidos de ser movido, o que nos cabe examinar agora é se a alma é movida por si mesma e participa do movimento.

Há quatro tipos de movimento: locomoção, alteração, decadência e crescimento. Na hipótese de a alma ser movida, será de acordo com um desses tipos, mais de um deles ou todos eles. Mas se o movimento da alma não for por acidente, terá que haver um movimento que pertença naturalmente a ela, e nesta hipótese, como todos os tipos indicados envolvem lugar, também este terá que lhe ser natural. Se a essência da alma consistir no movimento de si mesma, o movimento não lhe será inerente por acidente, como ocorre com o que é branco ou o que tem três cúbitos de comprimento, que são movidos, sim, mas somente por acidente – é o sujeito ao qual esses predicados pretendem que se move [naturalmente], isto é, o corpo. Consequentemente, esses atributos carecem de lugar natural; a alma,contudo, se participa naturalmente do movimento, possui um”. (ARISTÓTELES; 2018, P. 52-53)

Iniciamos este texto citando os primeiros parágrafos do capítulo 3 do Livro I da obra “De Anima” de Aristóteles, em que o autor analisa os movimentos (ou o movimento) da alma, para que o seu pensamento neste aspecto sirva de base para a nossa análise. Realizaremos nosso comentário em tópicos, com a finalidade de facilitar a compreensão de quem ler este texto. Os nossos comentários às questões grifadas têm como base nossos estudos na Filosofia e na Teologia Umbandista. Vamos a eles:

1- A alma move a si mesmo e o movimento é um atributo seu?

A alma humana, bem como a dos animais (sim, muitos dos seres irracionais possuem alma) é dotada da faculdade do movimento. Deus, nossa Origem, capacitou-nos com diversas faculdades, portanto, o movimento é uma delas.

2- “As coisas podem ser movidas de duas maneiras: ou por uma outra coisa ou por si mesmas”. A alma é movida por si mesma ou participa dos movimentos?

A alma que recebe da Sua Origem Divina tal faculdade (do movimento) é movida por si mesma pois, a faculdade citada dota o ser (sua alma) da habilidade de manipulação deste movimento com determinada liberdade. Imaginemos se necessitássemos de um impulso externo para qualquer movimento nosso, o quão sofrível seria a nossa existência!

Deus (Primeiro Motor Imóvel, para Aristóteles) que é em Si Pura Sabedoria dotou-nos de tal faculdade para que pudéssemos desenvolvermo-nos durante o nosso processo evolutivo.

O autor nos coloca o exemplo dos marinheiros em uma embarcação. Nesse exemplo, percebemos dois tipos de movimento: o dos marinheiros conforme suas vontades e necessidades (tendo, nestes, os movimentos subjacentes dos seus membros superiores, inferiores etc) dentro de uma embarcação que tem seu próprio movimento conduzido por um timoneiro. Então, numa breve analogia, podemos entender-nos como marinheiros em uma embarcação (nosso planeta ou a Criação como um Todo) e o timoneiro, Deus (nossa Origem).

Assim concluímos que a alma, concomitantemente, é movida por si mesma e participa dos movimentos, porém, há uma escala hierárquica de forças onde um movimento menor não pode conter em si ou suplantar um movimento maior. E nessa escala, dentro dessa analogia, o nosso movimento é o menor, completamente limitado e condicionado pelos movimentos anteriores e superiores a ele.

3- Há quatro tipos de movimentos: locomoção, alteração, decadência e crescimento.

No texto anterior, quando analisamos a Alma em Aristóteles, concluímos que esta ultrapassa os limites do corpo carnal no espaço e no tempo.

A alma locomove-se, altera sua localização entre realidades (material e espirituais), e pode entrar em decadência, pois, reduzindo e baixando seu nível vibratório, acessará faixas mais densas da realidade espiritual. Quanto ao crescimento, se este não ocorre em tamanho, como no caso de outras criações de Deus¹, acontece como crescimento intelectual, mental e consciencial.

Portanto, podemos entender tal crescimento como a expansão da alma em sua evolução consciencial consciente.

4- O movimento da alma ocorre por acidente?

Em Filosofia entende-se por acidente uma qualidade casual pertencente a um sujeito, mas que não faz parte da sua essência. Ex: “Sócrates é um homem grego”. Neste caso determina-se que Sócrates é homem por essência e grego por acidente, pois, poderia ser um homem inglês, brasileiro ou italiano.

Porém, no caso do movimento (ou dos movimentos) da alma que se nos apresentam como uma faculdade que contém em si uma habilidade, então, não faz sentido considerá-lo(s) acidental ou acidentais. Portanto, esta possibilidade é completamente inviável.

5- A alma participa naturalmente do movimento e, portanto, possui um.

Como faculdade, participa e possui um movimento (ou uma série de movimentos) concomitantemente.

A alma humana movimenta-se por si só dentro de um certo limite a nós imposto e condicionado por Deus, nossa Origem, Primeiro Motor Imóvel para Aristóteles. E todos estes movimentos ocorrerão conforme nossas escolhas, pois, escolheremos sempre o rumo a ser seguido. Em outra oportunidade, poderemos comentar acerca dos Caminhos, outro mistério divino passível de análise filosófica, religiosa, ontológica e metafísica, imbricando-o com os movimentos da alma, bem como, com outros movimentos da Criação.

E estes movimentos da alma, conforme a escolha dos caminhos realizada conscientemente por nós, nos levarão a uma paralisação destes ou à sua expansão, afinal, as consequências são naturais (seguindo a velha máxima da semeadura e da colheita), sejam elas positivas ou negativas. Então, encerramos com um questionamento: tendo recebido de Deus tal faculdade, que deve ser benéfica para o nosso desenvolvimento e evolução, o que temos feito com os movimentos de nossas almas?

No próximo texto, encerraremos esta série filosófica sobre a Alma expondo alguns conceitos contidos na Metafísica de Rubens Saraceni.

André Cozta

¹Há criações divinas que vão crescendo, expandido-se de tal forma que, quando ultrapassam certos limites, são ‘transferidas’ a outras orbes planetárias. Vide as obras “A Magia Divina dos Elementais” e “A Magia Divina dos Gênios” de autoria do Mestre Rubens Saraceni e publicadas pela Madras Editora.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARISTÓTELES. Da Alma – De Anima. Tradução de Edson Bini. 1.ed. São Paulo: Edipro, 2018.

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