Houve um determinado momento, não muito distante de nós, em que os órgãos do corpo humano rebelaram-se. E tudo começou quando, muitos deles, revoltados para com as funções e os privilégios – segundo suas limitadas visões – que os calcanhares possuíam, resolveram paralisar. Entendiam que necessitavam corrigir aquilo que denominavam como uma “injustiça”, pois, segundo o pensamento corrente, todos os órgãos realizavam importantíssimos papéis, porém, nenhum dos reclamantes – ainda que se considerassem [e eram] importantíssimos no sistema – possuía liberdade ou autoridade sobre os movimentos do corpo humano. E tal revolta se alastrou, rapidamente, como uma “epidemia”.
Os calcanhares eram, são e sempre serão fundamentais no caminhar humano, pois, movem e estabilizam os dedos no chão, suportam o arco, levantam os dedos e controlam os movimentos do tornozelo. Não realizassem tais funções, como os pés caminhariam e conduziriam o corpo??? E de nada (ou muito pouco) adiantaria que as pernas cumprissem magistralmente o seu papel.
Porém, observaremos a seguir, muitos dos órgãos revoltados não conseguiam enxergar os calcanhares, o que se tornava um fator negativo fundamental para a não compreensão ou para a ignorância acerca das necessárias funções cumpridas por eles.
E a revolta se iniciou com uma paralisação parcial do corpo humano:
– O baço parou de filtrar o sangue e remover os glóbulos vermelhos lesionados; também parou de produzir e armazenar células brancas para o sistema imune.
– Os rins paralisaram a filtragem de impurezas e, em conseqüência disso, não mais eliminavam substâncias nocivas do sangue; também não mais controlavam a pressão arterial nem produziam hormônios e vitaminas.
– Os intestinos paralisaram a passagem de alimentos digeridos, não mais facilitando a absorção dos nutrientes, tampouco eliminando os resíduos.
– O estômago parou de digerir os alimentos e secretar hormônios.
– A bexiga travou a passagem de urina (produzida pelos rins), trazendo para o corpo humano uma das sensações mais caóticas, por ele sentida, durante aquele movimento rebelde.
– O pâncreas parou de produzir enzimas e hormônios.
– O pulmão paralisou a hematose e, portanto, não mais havia troca de gás carbônico por gás oxigênio nos alvéolos pulmonares.
– Os músculos se enrijeceram, paralisando a produção dos movimentos do corpo, prejudicando a estabilização das posições corporais, das articulações, o que fez com que o corpo humano não mais pudesse sentar-se ou ficar em pé.
– Os ossos dividiram-se: alguns queriam manter-se (como os ossos das pernas e pés) sustentando o corpo, protegendo os órgãos internos, a reserva de sais minerais e produzindo as células sanguíneas. Outros ossos, de outras partes do corpo, defendiam a paralisação total do seu sistema.
– O cérebro pediu auxílio à sua eterna, leal e inseparável companheira, a Mente, a fim de que, em uníssono, pudessem tentar auxiliar na resolução do imbróglio. Pensou, pensou, pensou muito…. E concluiu que aquela revolta era irracional.
– Para os braços era impensável movimentar-se com o corpo sem movimentos nos pés e sem direcionamento, pois, mover-se sem a perspectiva de poder sair do lugar era algo incongruente. Detalhe: eram dois dos órgãos (tanto o direito quanto o esquerdo) que enxergavam os calcanhares e compreendiam a necessidade do bom cumprimento das suas funções.
– Os olhos, que a tudo enxergavam, consideravam aquele um movimento absurdo e irresponsável.
– Os ouvidos (e, consequentemente, as orelhas) que a tudo escutavam – inclusive, o som produzido pelos movimentos dos calcanhares e as pisadas no chão – mantinham-se em silêncio, mas, se pudessem manifestar-se, externariam a sua indignação.
– O coração, que a tudo sentia, juntamente ao cérebro formava a díade de órgãos mais preocupados com aquilo tudo. E só repetia: “falta amor e, por faltar amor, falta compreensão… o desamor cega”. Os olhos concordaram, imediatamente. E o coração continuou bombeando sangue, que aliás – ele, o sangue -, estava também muito preocupado, pois, caso parasse de correr, morreria!
Sentindo o peso daquela revolta nas suas costas, os calcanhares, com o auxílio da racionalidade mental, por intermédio do cérebro, e dos sentimentos de amor, emitidos com muita força pelo coração, enviaram a todos os outros órgãos integrantes do corpo a seguinte mensagem: “Toda esta revolta dos órgãos irmãos, que não nos enxergam e, consequentemente, não têm noção alguma do quão são fundamentais as funções por nós cumpridas, fará com que, tão logo, este peso se torne insuportável para nós; então, sucumbiremos e, quando isso acontecer, todos vocês cairão! E os menos prejudicados seremos nós, que já vivemos e trabalhamos aqui embaixo. Todos vocês, sem exceção, entrarão num profundo processo de queda! Portanto, sugerimos: se não nos enxergam e, por conseqüência, não nos compreendem, peçam auxílio ao coração e busquem compensar essa falta de visão com o sentimento. Se não podem nos ver, sintam-nos! Em seguida, peçam auxílio mental ao cérebro e racionalizem, pois, a queda geral será prejudicial para todos.”
Após a disseminação da mensagem por todo o sistema que forma o corpo humano, todos os órgãos, sem exceção, foram envolvidos pelo amor transmitido pelo coração e receberam choques de racionalidade, emitidos pelo cérebro. E todos compreenderam – ainda que, muitos não os enxergassem – as fundamentais funções dos calcanhares. E entenderam que as funções exercidas por eles [os calcanhares], lá embaixo, eram necessárias, para que, aquelas cumpridas por cada um deles [os órgãos revoltos], realizassem-se bem e a contento, bem como, as suas funções eram fundamentais para que os calcanhares realizassem as de sua incumbência. Portanto, todos aqueles órgãos, antes rebelados, agora esclarecidos, eram primordiais para os movimentos e a locomoção do corpo humano.
Somos órgãos, primeiramente, de um corpo familiar, em seguida, de um corpo social e, consequentemente, de um corpo planetário e, finalmente (ou inicialmente???), do Corpo Divino, que é a própria Criação de Deus Manifestada. Então, que tal antes de julgarmos outrem, buscar sentir e compreender a multiplicidade, que se manifesta em toda a Criação e, portanto, também na humanidade?
Um abraço fraterno!
André Cozta
REFERÊNCIAS:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ba%C3%A7o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rim
https://pt.wikipedia.org/wiki/Intestino
https://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%B4mago
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bexiga
https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A2ncreas
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pulm%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsculo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Osso
https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9rebro