Cada vez mais, vemos pulularem narrativas diversas acerca dos mais variados assuntos; e a batalha de narrativas tem tomado conta, em grande parte do tempo, das nossas vidas, especialmente por intermédio das redes sociais.
Infelizmente, elas vêm, em grande parte dos casos, nutridas e abastecidas pela cultura do ódio. Não atinam estas pessoas para o fato de que o ódio cega. Mas também há aqueles seres humanos que são nutridos e se abastecem pela vaidade, usando da sua narrativa, aquela que lhe convém, para promover, sustentar e manter tal sentimento. Também esses não se apercebem que a vaidade, assim como o ódio, não somente cega, mas também emburrece.
Um bom diálogo, uma boa discussão de ideias respeitosa, deve se dar num clima ameno, arejado, em que ambos os debatedores tenham a possibilidade de falar claramente a ponto de serem compreendidos pelo outro, permitindo que aquele venha a falar claramente também, ouvindo-o, absorvendo o que lhe foi dito, “mastigando” e refletindo sobre o que ouvira, praticando assim, um salutar exercício dialético.
Ora, infelizmente, está cada vez mais difícil de se realizar ou de se participar de discussões sadias, porque o ódio e a vaidade têm tomado conta das pessoas, nesse nosso atual momento social, e a ordem primeira tem sido a de suplantar o ‘inimigo”. Sim, é exatamente isso o que tem acontecido, a diversidade de ideias, a diferença de pensamentos tem formado trincheiras. Trincheiras essas que sustentam uma guerra burra, pois, todos os participantes são derrotados, ninguém vence!
A retórica é a arte de falar bem para persuadir. Já a narrativa é um relato de uma história ou de um fato. Persuadir não significa vencer, suplantar, pisotear, tão somente convencer outrem e até trazê-lo para as suas fileiras. Mas isso não deve se dar por intermédio de um “sequestro”, porque, se assim for, não ocorreu uma persuasão, mas sim um delito (ainda que não legalmente, mas moralmente).
Quer conhecer um pouco mais sobre retórica? Recorra à obra homônima de Aristóteles e poderá compreender boas técnicas de persuasão, sem o concurso do ódio tampouco da vaidade exacerbada.
Uma “retórica” [pseudo] de ódio será nutrida por uma narrativa beligerante e que produzirá, do outro lado, mais ódio. Então, você envia uma bomba e recebe duas de volta, reenvia quatro, recebe oito e assim sucessivamente.
Há um ponto que precisa ser considerado e se refere à diferença básica que há entre opinião e ponto de vista.
- Opinião é um parecer sobre algo, uma avaliação pessoal que não necessariamente refletirá a realidade, pois pode ser uma ideia ou hipótese sem confirmação ou fundamento.
- Ponto de vista é uma maneira particular de se pensar sobre algo, uma perspectiva em que se pode analisar, interpretar e avaliar uma ideia ou situação. Baseia-se em experiências individuais, crenças ou valores.
Tanto o ponto de vista quanto a opinião podem variar de pessoa para pessoa.
Agora já podemos perceber que o ponto de vista é um tanto mais concreto do que a opinião, pois, ainda que possa ser equivocado, parte obrigatoriamente da visão sobre algo, enquanto a opinião pode ser formada por uma ideia sem fundamento concreto ou empírico algum. E isso é muito perigoso e tem se tornado cada vez mais comum!
Aristóteles, no seu ideário sobre ética, nos alerta e ensina que devemos buscar sempre o caminho do meio nas coisas da vida, também nos alerta para o fato de que o hábito é fundamental, tanto para o desenvolvimento da virtude quanto para o afundamento no vício. E, quando falamos em vício ou vícios, não estamos nos referindo somente àqueles mais pesados que atingem nossa saúde mental ou física, mas de pequenas atitudes viciosas que acabam nos levando para caminhos que, certamente, não nos trarão nenhum progresso, quiçá evolução.
Breve nota: o progresso nos leva à frente, já a evolução nos leva para a frente e para o alto, para um patamar superior.
“Tenho me utilizado da narrativa que me convém para moldar um modo de vida, uma sociedade baseada nos meus preconceitos e de todos aqueles que formam o meu grupo de afinidades”. Esse tipo de atitude, aqui colocada entre aspas, tem sido prática cada vez mais comum. E, infelizmente, a nossa sociedade é, historicamente, forjada e talhada em preconceitos. Reflita bem sobre isso!
E a narrativa que me é conveniente segue passando por cima do que e de quem for necessário como um trator impiedoso.
Será que uma narrativa, ainda que seja baseada em um ponto de vista fundamentado em algo concreto, será perfeita? Se você responder afirmativamente, por favor, indique-nos algo produzido por qualquer ser humano, ao longo dos tempos, que tenha se mostrado com um mínimo grau de perfeição. Poe aqui, dentro das nossas limitações, só temos visto perfeição na Natureza Mãe, ao nosso redor.
Então, para que cheguemos à nossa conclusão, que se baseia no que temos visto por aí, deixamos aqui a seguinte afirmação: o culto à ignorância – sobre o qual podemos dedicar atenção especial num texto futuro – tem sido base, fundamento e cerne de toda essa batalha egóica que temos vivido e presenciado. Quando adentramos ao conhecimento fundamentado em estudos, pesquisas, experiências e não em notícias falsas, plantadas, especialmente por meio da internet, temos mais possibilidade de analisar, avaliar e concluir, se não corretamente, mais próximo daquilo que venha a ser a verdade.
Sou umbandista e não acredito em verdades absolutas, não aqui ao nosso redor. Creio, reverencio e amo A Verdade Absoluta, que é aquela que nos criou, nos deu todas as condições e nos observa, o tempo todo, para que possamos, pela experiência, pelo amor, pela compaixão e pela fraternidade, caminharmos juntos progredindo, aprendendo e evoluindo.
Por isso, sugiro que você (caso sinta necessidade) troque a narrativa mais conveniente por aquela que será fruto de uma conclusão a partir de fatos que foram analisados com neutralidade, com suspensão de juízo.
Não foram citados, neste texto, fatos concretos, primeiramente, porque se tencionou que você exercite o que aqui foi colocado e proposto e, num segundo plano, porque, caso por essa alternativa optasse-se, aqui teríamos um pergaminho infindável.
Busque suspender o juízo nas suas análises, experimentar, observar, analisar, avaliar, sem emissão prévia de opinião, pois, essa só será válida quando formada através de uma conclusão robusta, quando já será um forte, concreto e fundamentado ponto de vista.
Então, poderá trocar a narrativa que me convém por a narrativa sobre aquilo que percebi e concluí.
Um abraço fraterno!
André Cozta
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