O NOSSO LADO METAFÍSICO – Parte II

 

 O processo dialético-reflexivo [ou movimento autodialético], a partir do momento em que compreendemos tudo o que nos foi colocado na primeira parte deste texto, torna-se a principal arma reflexiva para que alcancemos conclusões plausíveis.

Podemos fazer uma analogia, neste caso, com a metáfora platônica da segunda navegação, em que a primeira navegação se refere às explicações naturalistas [ou materialistas] dos fenômenos; afirma que, nesse momento, a embarcação está sendo conduzida pelo vento, porém, quando esta sustentação cessa, torna-se necessário remar a fim de que a viagem prossiga. Essa segunda navegação, com o recurso dos remos, é comparada por ele à dialética, ou seja, o processo dialético pode nos elevar ao conhecimento das causas maiores.

Trocando em miúdos: a partir da dialética alcançaremos o nosso lado metafísico. A questão que se coloca é: “eu quero alcançá-lo ou prefiro virar a face e agir como se não existisse?”

Nós, umbandistas, somos teístas e mantemos nossa fé em Deus, nos Orixás e nos guias espirituais intacta. Então, já demos o primeiro passo nessa florida estrada. Só a fé nos basta? Bem, a fé é o sentido básico da vida, primeira linha de Umbanda, mas sabemos que uma fé sem raízes fortes e consistentes não se sustenta. Por isso, encontramos essas raízes nas Árvores do Conhecimento [o terceiro sentido da vida e terceira linha de Umbanda].

Agora, concluímos que o conhecimento é fundamental para que possamos, com fé, galgar novos degraus evolutivos na jornada espiritual. E paramos por aí?

Não, obviamente. No texto anterior, abordamos [como temos feito em vários escritos nossos] a fulcral importância de, em todo esse processo, ativarmos o modo sentir, pois só assim conseguiremos perceber os movimentos que ocorrem além da matéria. Mas, como faremos isso?

Parece óbvio que o modo sentir só pode ser ativado pelo Amor [segundo sentido da vida e segunda linha de Umbanda]. Portanto, com Fé, Conhecimento e Amor, o processo dialético mostra-se pronto para nos direcionar no rumo evolutivo.

Mas não paramos por aí!

Tudo isso deve ser realizado tendo, em si, equilíbrio, ordenação, estabilidade e transmutação.

O equilíbrio é fator primal da Justiça [quarto sentido da vida e quarta linha de Umbanda], a ordenação é fator fundamental da Lei [quinto sentido da vida e quinta linha de Umbanda], a estabilidade e a transmutação são fatores fundamentais da Evolução [sexto sentido da vida e sexta linha de Umbanda]. Tudo isso nos proporcionará gerarmos, em nós mesmos [a Geração é o sétimo sentido da vida e sétima linha de Umbanda], um conhecimento para além da nossa visão humana material limitadíssima.

Parece simples? Nem tanto! Mas, então é tão complexo assim? Não, mas é muito profundo e, por assim ser, deve-se ter também a vontade de realizar o tal mergulho.

Se, temos as sete linhas de Umbanda [ou sete sentidos da vida] nesta ordem: 1 – Fé; 2 – Amor; 3- Conhecimento; 4 – Justiça; 5 – Lei; 6 – Evolução e 7 – Geração, isso não significa que a ativação ocorra nessa ordem ou que ela seja hierárquica. Caso esteja pensando assim, esqueça isso!

A ativação é concomitante, afinal, todos esses sentidos estão em nós e a nossa mente é capaz de realizar tal movimento – ainda que, sem conhecer a fundo os mecanismos de ativação -, intuitivamente ou instintivamente. Intuitivamente, se intencionarmos e direcionarmos a mente para isso, já instintivamente, caso não realizemos esse direcionamento mental, mas o movimento se realize, mesmo assim.

O processo dialético é um processo de conhecimento, mas como podemos perceber, ele não caminhará sozinho, mas terá sustentação da fé, terá o amor como solo fundamental [o modo sentir], terá no equilíbrio, na estabilidade, na ordenação e na transmutação fatores fundamentais para que o processo de elevação do conhecimento pessoal se realize por intermédio da dialética.

Então, estamos falando de  movimentações com ações divinas de nosso Pai Oxóssi (Conhecimento), sustentadas por nosso Pai Oxalá (Fé), tendo como solo o Sagrado Coração de nossa amada Mãe Oxum (Amor), com apoio fundamental de Pai Xangô (equilíbrio), Pai Ogum (ordenação) e Pai Obaluayê (estabilidade e transmutação), tendo em Mãe Iemanjá a Geração de um conhecimento verdadeiro.

Isso, em se tratando do polo positivo e passivo dos sete sentidos da Vida, sendo capitaneados pelos Orixás Universais (regentes) supracitados. Mas, as coisas também podem ser realizadas, se necessário, pelo polo ativo e negativo por intermédio de Orixás Cósmicos (guardiões).

Nesses casos, teremos uma afixação e concentração do conhecimento (Mãe Obá), uma correção em aspectos viciados da nossa fé (Mãe Logunã), diluição e renovação de sentimentos – ou do modo sentir – (Pai Oxumaré, orixá guardião do Amor), purificação do raciocínio e da razão (Mãe Oro Iná), um direcionamento para novos movimentos no nosso processo de aquisição do conhecimento (Mãe Iansã), decantação – separando o “joio do trigo” – e consequente racionalização das nossas ideias (Mãe Nanã), bem como paralisação de pensamentos viciosos e opiniões dogmáticas (Pai Omolu).

Tendo compreendido como se realiza o processo dialético, podemos enxergá-lo [pois está bem visível aos nossos olhos] em todas as movimentações citadas, entre os Orixás Divinos, nos parágrafos anteriores. Sim, os movimentos divinos são dialéticos e metafísicos!

Você pode dizer que não precisamos de nada disso para conhecermos o nosso lado metafísico e que, somente com fé e ritualizações conseguimos alcançá-lo. Mas eu retruco: você sente isso de fato ou, simplesmente acredita no que lhe disseram sem examinar fatos e chegar a conclusões? Afinal, como bem disse Sócrates, uma vida não examinada não é digna de ser vivida.

Portanto, com a Fé de Pai Oxalá e Mãe Logunã, com o Amor de Mãe Oxum e Pai Oxumaré, com o Conhecimento de Pai Oxóssi e Mãe Obá, com a Justiça de Pai Xangô e Mãe Oro Iná, com a Lei de Pai Ogum e Mãe Iansã, com a Evolução de Pai Obaluayê e Mãe Nanã Buruquê e com a Geração de Mãe Iemanjá e Pai Omolu, conseguiremos limpar toda a sujeira que ainda carregamos em nossa casa íntima, no que se refere ao conhecimento metafísico, buscando, por intermédio do processo dialético algo que, ao menos, aproxime-se de uma Verdade Maior.

Não podemos encerrar este texto sem abordarmos um aspecto importantíssimo: o fator opinião.

Platão condenou veementemente a doxa (opinião ou crença como um ponto de partida para alcançar a verdade). Isso significa dizer que, quando partimos de uma opinião formada, cristalizada, quando analisamos com preconceitos, inclusive, não conseguimos realizar um processo dialético salutar, talvez consigamos realizar uma pseudodialética.

Já Aristóteles utilizou o termo endoxa (opiniões ou crenças comumente sustentadas pelos sábios e pelos mais antigos e influentes retores) como uma crença – ou opinião – mais estável do que a doxa, pois ela teria sido “testada” nos debates por algum debatedor. Ele define o termo como as opiniões que são aceitas por todos, pela maioria ou pelos sábios, isto é, por todos, ou pela maioria, ou pela maioria dos mais respeitáveis entre eles.

Na verdade, se escrutinarmos os ensinamentos desses dois filósofos, perceberemos que se complementam, pois não podemos iniciar um processo dialético de conhecimento com opiniões firmadas e cristalizadas. Estas devem aparecer ao final, quando a dialética nos elevou no conhecimento. Para isso, é fundamental que pratiquemos a epoché [suspensão de juízo] a fim de realizarmos uma análise que nos leve a conclusões verdadeiras.

É muito difícil de se realizar? Eu diria que é um pouco difícil, afinal, somos humanos imperfeitos em evolução, mas não é impossível, basta querer.

Assim sendo, concluímos que a Umbanda nos nutre de tudo o que necessitamos para o nosso crescimento em todos os sentidos e, como vimos, no conhecimento básico do nosso lado metafísico, bem como, do nosso planeta.

Um saravá fraterno!

 

André Cozta

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 Endoxa. https://pt.wikipedia.org/wiki/Endoxa. Consulta em 23ago 2024

 

Fonte da imagem: https://sites.ifi.unicamp.br/laboptica/curiosidades-2/arco-iris/

 

 

 

 

 

2 comentários em “O NOSSO LADO METAFÍSICO – Parte II”

  1. Quanto conhecimento sendo compartilhado conosco! Obrigada irmão André, que nosso amado Pai sempre estejas iluminando teus caminhos. 💕🙏🕯

    1. Muito obrigado, irmã!
      Espero que leia e goste também dos outros. Já leu algum dos nossos livros?
      Temos um texto gratuito no Google, sobre a questão do mal no mundo, “Teodiceia & Umbanda: Um Ensaio Sobre o Problema do Mal”.
      O link está numa postagem deste site.
      Se possível, divulgue esse nosso trabalho a quem possa se interessar.

      Um abraço fraterno!

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